DE VOLTA À CENA: EX-MINISTRO DO APAGÃO É ESPECULADO PARA PRESIDÊNCIA DA PETROBRAS.

DE VOLTA À CENA
EX-MINISTRO DO APAGÃO, PEDRO PARENTE É ESPECULADO PARA ASSUMIR PRESIDÊNCIA DA PETROBRAS.

Tudo no campo da especulação, mas passou a ser divulgado com velocidade nas últimas horas desta segunda-feira (16) o nome de Pedro Parente como possível substituto de Aldemir Bendine na presidência da Petrobrás. Segundo os principais jornais do país, fontes do Palácio do Planalto confirmaram a sondagem do governo sobre ele.

Engenheiro formado pela Universidade de Brasília (UnB), Parente foi três vezes ministro no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), comandando o Planejamento, Minas e Energia e a Casa Civil. Além disso, mais recentemente passou a atuar no setor privado e foi presidente da Bunge Brasil e da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (ÚNICA).            

A imprensa, evidentemente, repercute o nome de Parente com otimismo ao receber sua possível indicação como um legítimo representante do mercado. Afinal, foi ministro de um dos governos mais privatistas da história do país e circulou com bastante desenvoltura na agressiva iniciativa privada.

Alvo da Justiça e amigo de Reichstul
Não por acaso, a imprensa não divulgou os detalhes de seu currículo que mais interessam aos trabalhadores. Parente faz parte do seleto time de ex-ministros de FHC que são alvo de duas ações de reparação de danos por improbidade administrativa na década de 1990. Ações, aliás, que a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal recentemente autorizou a retomada após recurso da Procuradoria-Geral da República.

As ações, apresentadas pelo Ministério Público Federal, questionam assistência financeira no valor de R$ 2,97 bilhões do Banco Central aos bancos Econômico e Bamerindus, em 1994, dentro do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), que socorreu bancos privados com recursos públicos. Além de Parente, na época à frente da Casa Civil, são alvos dessas ações Pedro Malan (Fazenda), José Serra (Planejamento, Orçamento e Gestão) e ex-presidentes e diretores do Banco Central.

Em 2002, o ministro Gilmar Mendes concedeu liminar para suspender as ações e, em 2008, mandou arquivar os processos que estavam na Justiça Federal do Distrito Federal. Nenhuma surpresa, afinal Mendes também engavetou recentemente as investigações da Lava Jato sobre Aécio Neves (PSDB). Em uma dessas ações, os ex-ministros e ex-dirigentes do BC haviam sido condenados pela 20ª Vara Federal à devolução de quase R$ 3 bilhões. A outra ação, na 22ª Vara, ainda não havia sido julgada.

Além de ministro de FHC com o nome sujo na Justiça por beneficiar bancos privados, Parente foi um dos principais defensores de Reichstul quando teve um dos seus períodos mais sombrios como presidente da Petrobrás, em 2001. Para quem não se lembra, Reichstul foi o pai da famigerada tentativa de alteração do nome da Petrobrás para Petrobrax, símbolo da tentativa de privatização da companhia. Foi também durante sua gestão que a empresa viveu dois dos seus episódios mais trágicos da história: o acidente da P-36 na Bacia de Campos, que resultou na morte de 11 trabalhadores, em março de 2001, e o vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, em 2000. Na época do acidente da P-36, pressionado pelo movimento sindical e até mesmo pela classe política, Reichstul estava com a cabeça a prêmio e teve como um dos seus principais aliados e defensores justamente Pedro Parente, na época conselheiro diretor remunerado da Petrobrás.

Em entrevista ao Estadão em 25 de abril de 2001, Parente refutou qualquer chance de assumir na época a presidência da companhia e defendeu abertamente Reichstul. "Se o senhor presidente Fernando Henrique Cardoso perguntasse a minha opinião, eu seria contra a mudança na presidência na Petrobrás”, completando sua opinião sobre a continuidade de Henri Philippe Reichstul à frente da Petrobrás. "Não tenho a menor dúvida disso. Ele está fazendo um bom trabalho”.

Pois bem, é fácil perceber que os critérios de boa governança de Pedro Parente são completamente opostos aos dos trabalhadores. Para ele, é digno de confiança um presidente que tem em sua gestão a mancha de acidentes ambientais e de petroleiros mortos por negligência. O que esperar dele caso seja confirmado presidente da Petrobrás?

Privatização sob o véu de uma “gestão profissional”
Se confirmado seu nome, o mais provável é que tentem colar à Parente a imagem de uma gestão profissionalizada e mais transparente, alinhada aos fictícios princípios de transparência de um mercado em essência corrupto. Em palestras ministradas por ele após sua passagem no mercado, não foram poucas vezes em que criticou a "ineficiência do Estado" e a "inatividade do funcionalismo", não foram poucas vezes que defendeu o estabelecimento de metas rigídas, argumentos que sabemos serem utilizados por todos aqueles que defendem o Estado mínimo e o Deus Mercado. Em outras palavras, tal gestão seria na realidade o aprofundamento da privatização da companhia em todos os níveis.

Privatização que, lembremos, já está em curso com a venda de ativos, a terceirização, a manutenção dos leilões de petróleo e o recente projeto de lei que aprofunda ainda mais a entrega do pré-sal ao estrangeiro ao tirar a exclusividade de operação da Petrobrás sobre o pré-sal, assim como sua participação (obrigatória) de ao menos 30% nos campos de exploração.

A estratégia de Temer, neste caso, é diferente daquela adotada por Dilma quando nomeou Bendine como presidente. Ao menos na aparência. Por ter sido muitos anos atrás funcionário de carreira do Banco do Brasil, Bendine teve sua chegada celebrada por alguns setores do movimento sindical. Na época, chegou-se a afirmar que ele fortaleceria o caráter nacional da empresa. Grande engano. Foi pelas mãos de Bendine que o governo implantou na Petrobrás a política de desinvestimentos, iniciando uma triste temporada de venda de ativos e tentativa de retirada de direitos que forçou a categoria a responder com uma das maiores greves de sua história – certamente a maior desde 1995. Foram mais de 23 dias de greve contra o desinvestimento e os ataques aos nossos direitos.

Agora, sem cerimônia, seja Pedro Parente ou qualquer outro nome, Temer irá tentar impor para a Petrobrás um nome que agrade ao mercado, um nome que gere otimismo. E isso se faz através da nomeação de um legítimo privatista, sem disfarces.

O que fica de lição dos ataques que a categoria já vem enfrentando, e daqueles que certamente Temer tentará aplicar com ainda mais força, é que vamos ter que enfrentar qualquer governo que insista em entregar o pré-sal e privatizar a Petrobrás. Não importa a forma como os ataques são desferidos, não importa se a tentativa de privatizar a empresa é a conta-gotas ou numa tacada só. Em qualquer uma das alternativas, é preciso lutar. O que está em jogo não são apenas nossos direitos e empregos, são os maiores patrimônios deste país: o pré-sal e a Petrobrás.

Fontes utilizadas para o artigo:
http://oglobo.globo.com/economia/pedro-parente-deve-substituir-bendine-na-presidencia-da-petrobras-19317352
http://www.secovi.com.br/noticias/nat-traz-pedro-parente-ao-secovi-sp/2593/
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2703200118.htm

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,parente-diz-que-nao-quer-presidir-a-petrobras,20010425p37026
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